Reclamar ou Desabafar?

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Todos nós passamos por momentos e desafios diários que nos provocam ansiedade, stress, tristeza, conflitos e deceções… e isso é natural, faz parte da vida. Também é normal que partilhemos com aqueles que nos são próximos as nossas aventuras e desventuras. Mas existe sim, uma diferença entre desabafar e reclamar.

Não vou analisar aqui se você reclama demasiado, ou apenas desabafa as suas dores. Vou no entanto colocar-lhe algumas questões, para que possa responder você mesmo, e decidir em que categoria se insere. Será que você é um “reclamão” que está, sem perceber a reprogramar-se para o insucesso?

Você está realmente a desabafar ou só quer reclamar?

Quando você relata uma situação:

a) está à procura de uma solução?

b) deseja ser validado na sua atuação?

Quando você relata uma situação:

a) o problema parece mais pequeno?

b) o problema parece que ficou ainda mais grave?

Quando você relata uma situação:

a) consegue distanciar-se pessoalmente da situação?

b) dramatiza e exagera, sendo percecionado como uma vitima?

Quando você relata uma situação:

a) regra geral, os outros permanecem à sua beira?

b) regra geral, os outros distanciam-se de si?

Quando você relata uma situação:

a) sabe dar espaço e ouvir também os problemas do outro?

b) dá por si a repetir várias vezes a mesma coisa?

Eu sei que você é inteligente o suficiente para perceber por si mesmo o resultado deste ligeiro questionário.

A pessoa que desabafa, por norma, costuma pedir ajuda com a intenção de resolver o seu problema. Ela está à procura de encontrar uma solução ou uma diminuição do seu sofrimento. Normalmente é mais resiliente, encarando os fatos, encontrando formas para melhorar a sua condição, fazendo as mudanças necessárias e assim seguindo a sua vida.

Por outro lado, aquele que reclama, não quer mudar, ouvir outras opiniões e reavaliar a sua conduta, está apenas interessado em obter atenção, carinho e validação.

Para inspirá-lo, partilho consigo uma pequenina história…

A Velha Chorona

“Há muitos, muitos anos, numa aldeia distante, vivia uma velha que vendia bolinhos caseiros. Na rua era conhecida por toda a gente como a “velha chorona”, pois passava o dia a lamentar-se e a choramingar. Por causa disso a velha acabava por perder muitos clientes que não tinham paciência para lhe aturar as lamúrias.

Um sábio professor que, todos os dias, a caminho do trabalho, passava junto à velha, começou a ficar intrigado com tanta choradeira. E perguntou-lhe a que tal se devia.

– Tenho dois filhos. Um faz delicadas sandálias, o outro guarda-chuvas. Quando faz sol, penso que ninguém comprará os guarda-chuvas de meu filho, e ele e sua família vão passar necessidades. Quando chove, penso no meu outro filho que faz sandálias, e que ninguém vai comprá-las. Então ele também vai ter dificuldades para sustentar sua família. O professor sorriu e disse:

– Mas… o que a senhora tem de fazer é mudar de perspetiva, ver as coisas de outra maneira. Repare: quando o sol brilha, o seu filho que faz sandálias venderá muito, e isso é muito bom. Quando chove, o seu filho que faz guarda-chuvas venderá muito, e isso é também muito bom.

Bem, dizem as más-línguas que a velha chorona teve alguma dificuldade em compreender as sugestões do professor. Mas lá acabou por compreender e… aceitar. Desde então, a velha passa todos os dias, quer chova quer faça sol, a sorrir feliz e apregoando os seus bolinhos caseiros. E os clientes, atraídos pela sua boa disposição, são cada vez mais. Os bolinhos já nem dão para as encomendas.”

Maria João Azevedo

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