Raul Teixeira é natural da cidade de Niterói, no Rio de Janeiro, Brasil. Licenciado em Física pela Universidade Federal Fluminense, Mestre em Educação pela mesma universidade e Doutor em Educação pela Universidade Estadual Paulista. Atualmente é professor reformado.
Como orador, já esteve em todos os estados do Brasil e em 45 países, levando a mensagem espírita a milhares de pessoas. É um dos mais requisitados conferencistas espíritas da atualidade.
Esta entrevista foi produzida pelo Programa Terceira Revelação e divulgada pelo programa Espírito e Vida da Federação Espírita do Rio Grande do Norte (FERN).
O vídeo, tem apenas 15 minutos. Se preferir leia a entrevista transcrita abaixo.
Texto do conferencista espírita Raul Teixeira
Entrevistadora: Cláudia Brasil
E.:Raul…morremos e a partir dai? Estamos num longo e profundo sono? Ou há alguma vida após essa morte?
R.: Não, Cláudia. A morte, ao contrario do que muita gente pensa é a continuidade da vida. Aliás, é a própria essência da vida. Se não houver morte a gente não tem noção de vida. A morte e vida são questões de contrastes, do mesmo modo como falamos de “noite-dia”, “alto e baixo”, “claro-escuro”, nós falamos em “morte- vida”. Mas em verdade o que existe é vida: no corpo físico e fora do corpo físico. Então aquelas criaturas que estamos vivendo hoje no corpo físico, daqui a pouco mais estaremos vivendo fora desse corpo físico. Paulo deTarso já dizia que vivemos na terra em corpos corruptíveis e no céu viveremos em corpos incorruptíveis, referindo-se a esse corpo espiritual que nós os espíritas, chamamos de perispírito – e que Paulo chamava de corpo espiritual ou corpo incorruptível.
Vamos continuar a manter os contatos com nossos seres queridos, vamos continuar com as dificuldades com aqueles com quem não tenhamos tanta afinidade, vamos continuar com a necessidade de crescer, de evoluir porque Jesus cristo nos disse que era necessário ser perfeito como o Pai celestial é perfeito. Como isso não pode acontecer de repente numa única vida, ate porque nem todos nos vivemos muito tempo numa única vida (há pessoas que nascem e morrem outras vivem algumas horas, alguns dias, poucos anos) e mesmo que vivêssemos 100, 150 anos o que que a gente aprende para sermos como Deus ou nos aproximarmos de Deus nesse período? Obviamente que é importantíssimo que tenhamos essa visão de que depois da morte as coisas não se acabam. Porque a morte é apenas o final do corpo físico, nós saímos dos corpos mas não saímos da vida. E por causa disso, depois da morte só há a vida.
E.: Se aqui na terra estamos para melhorar, evoluir e no mundo espiritual, evoluímos também lá?
R.: Evoluímos primordialmente no mundo espiritual. Porque é o mundo normal primitivo, é o mundo das realidades. Tudo que se passa no mundo terra, nos planetas materiais, são as irrealidades. É como se nós estivéssemos trabalhando num laboratório para aprendermos aquilo que de fato vamos fazer na nossa vida. Estamos realizando na terra a experimentação da teoria aprendida. Então se a gente aprende que a lei divina é a lei do amor a gente vem para a terra para aprender a viver a lei do amor, por exemplo. E essa lei do amor se espraia sob diversas angulações: você vai viver a lei do amor no trato com a sua família, na educação dos seus filhos, no respeito ao seu esposo, esposa ou sua mulher, você vai viver a lei do amor na relação com os seus empregados, com seus funcionários,com seus patrões, seus colegas de trabalho, você vai viver a lei do amor na sua realização social, no clube, onde você esteja. Porque a lei do amor é uma coisa amplíssima. Quando um governante vai viver a lei do amor? Quando ele coloque-se a serviço do bem coletivo que ele jurou no ato da posse. Então quando você dá escola, dá saúde, condições de vida as pessoas, quando você realiza a possibilidade do emprego, da libertação social do individuo, da libertação sócio econômica a despeito da sua própria vida, você esta amando.
Então a lei divina chamada lei do amor contempla um leque muito amplo de possibilidades. Então no mundo dos espíritos nos continuamos a desenvolver essa busca de Deus dentro de nós, esse amor que precisamos desenvolver. E nos planetas materiais e nos mundos materiais, nós vamos exercitar isso. Por isso é que é difícil. Esse é um mundo de provas. Qual é o aluno que sempre acha a prova fácil? Só o estado emocional com que você vai fazer a prova ela já esta difícil. Por mais que você tenha estudado tudo, sabido tudo, mas é uma prova! E quando se fala de expiação (que é condição da terra), então a provação é aquele estagio que você esta precisando fazer aprendizados novos. Você tem que aprender coisas novas, fixar aprendizados.
E a expiação é aquele estagio que você resgata dívidas morais, acerta-se com a lei da consciência, paga débitos com a lei da vida. Então a expiação é que nos leva a sofrer, a resgatar, a enfrentar essas lutas morais, mas a provação é que faz com que a gente, ao aprender determinada coisa seja testado nesse aprendizado feito. As religiões estão ai na terra com essa finalidade, deveriam estar com essa finalidade, de nos fazer entender a importância de viver no mundo a lei do amor, a lei de justiça, a lei de caridade, a lei de sociedade… O difícil, Claudia, não é morrer, não é ir para o mundo espiritual, o difícil é estar aqui. Como para qualquer aluno não é difícil estar na sua casa, com seu pai, sua mãe, seus irmãos, onde ele põe os pés para cima, fica à vontade. O difícil é viver no meio dos outros, obedecendo regras, sabendo que ele não pode fazer tudo que ele quer, mas tem que fazer tudo que ele deve, as pessoas a sua volta cobram seu respeito, cobram seu enquadramento, então essa é a vida no mundo. Nós estamos numa escola, estamos exatamente aprendendo a crescer para Deus, a nos libertar como seres espirituais desencarnados ou como seres espirituais encarnados.
E.: Raul, depois que morremos encontramos ou reencontramos nossos amigos, nossos parentes, as pessoas queridas de imediato e também nossos inimigos ou pouco amigos?
R.: Indubitavelmente! De imediato não, mas a gente vai encontrando. É como você chegar de uma grande viagem. Você à principio, encontra aqueles que estão lhe esperando no aeroporto, no porto, na estação, mas depois no dia-a-dia, você encontra aquele na rua, você encontra aquele ali, alguém lhe chama ao telefone, você vai á feira, ao mercado, vai aqui vai encontrando as pessoas.
Quando nós chegamos no mundo espiritual ocorre a mesmíssima coisa: aqueles que vão nos esperar no pórtico da vida espiritual, aqueles que sabiam que nós iríamos desencarnar e que foram fazer a comissão de frente, a comissão de recepção, para nos receber. E ai nós somos levados para esse estado de repouso, que a gente precisa. Muitas vezes a gente sai do corpo lúcido, ativos, e depois é que relaxa. Muitas vezes a gente sai do corpo e não tem noção de que desencarnou. Mas quando nos deparamos com aquela turma toda na estação nos esperando e a gente sabe que já eram parentes mortos, a ficha vai caindo, como se diz popularmente, nos vamos nos assenhoreando da realidade. E esses seres queridos vão tratando de pouco a pouco nos informar, nos confirmar que nós já não fazemos parte da vida corporal. Mas há situações em que nós desencarnamos completamente anestesiados, entramos no mundo espiritual completamente sem memória de nada, como se estivéssemos num estado de coma. E só despertamos depois de muito tempo. E aí, nos deparamos com seres queridos a nossa volta ou com seres pouco amados a nossa volta. Alguns que nos bem dizem, alguns que nos fazem cobranças. Alguns que nos recebem bem e outros que nos hostilizam. Isso em função da nossa sementeira deixada no mundo.
E.: Há intrigas no mundo espiritual?
R.: Muitas intrigas no mundo espiritual. Porque uma coisa interessante é que nós não somos o corpo. Nós somos um ser espiritual e usamos um corpo para habitar os planetas materiais, um corpo físico. E no mundo dos espíritos, nós vamos viver num corpo energético, fluídico, como queira chamar. Mas aquela criatura que tem por costume fazer intrigas, fazer o tititi, elas continuam fazendo isso.
É por isso que muitas entidades das sombras se aproveitam de encarnados invigilantes e começam a por-lhes na mente, intrigas contra terceiros. E, de repente (você nem sabe por quê) começa a desconfiar mal de alguém… dentro de você aquilo é uma realidade, como se tivesse nascido de dentro de você essa certeza quando ela esta sendo recalcada, induzida e inspirada por entidades intrigantes, entidades fofoqueiras, diríamos assim. Então, o indivíduo não se santifica quando saiu do corpo, não fica santo nem vira anjo porque morreu. Nós saímos do corpo, repito, mas não saímos da vida.
E desse modo, aquilo que a gente desenvolvia aqui, nós vamos continuar fazendo no mundo espiritual. Há uma grande diferença: é que aqui, a massa das pessoas gosta desse tititi, alimenta esse tititi. E quando chegamos na pátria espiritual, nós vamos ficando tão isolados no nosso tititi que vamos nos sentindo infelizes. Porque as entidades benfeitoras, nossos anjos guardiões, não nos dão guarida nesses estágios então nós vamos ficando nas mãos de quem nos sevicia, de quem nos explora e essa exploração nos causa sofrimento e vamos aprendendo a deixar de falar mal, de pensar mal, de querer o mal, pela própria experiência de auto – sofrimento. De maneira que a grande diferença é que o mundo em que nós vivemos, o mundo terra, ainda é um mundo onde o mal sobrepuja, então, se alguém falar mal de você comigo, é bem capaz que eu goste porque eu fiquei superior a você, eu descobri uma fragilidade sua, eu passo a de certa maneira a controlar a sua vida. Mas quando eu vou evoluindo, eu me dou conta de que não me interessa saber seu lado negativo e se algum dia eu souber é para lhe ajudar e não para tirar proveito disso, para explorar a imagem negativa sobre você.
E.: No caso dessas mortes coletivas, um acidente aéreo, uma catástrofe ambiental… o que acontece logo após esses acidentes. Essas pessoas, esses espíritos todos chegam também coletivamente no mundo espiritual, chegam todos juntos, enfim, eles se encontram de imediato? Como é que isso funciona?
R.: É muito interessante, Cláudia, porque nós diremos que eles chegam todos juntos ao mundo espiritual. Porque o mundo espiritual não é um lugar para onde a gente vai, tomando uma condução, etc, como a gente aqui, será que vamos chegar todos juntos ao Rio de Janeiro, a São Paulo, saindo de Brasília. Não, depende se eu for de ónibus, depende se eu for de avião, depende se eu for de carro ou à pé. Mas quando se trata de desencarnação, no momento em que eu saio do corpo físico eu já estou no mundo espiritual. O que vai pesar ai é o nível de minha espiritualidade, é a minha condição espiritual, essa é que vai dizer se eu vou travar contato imediato com os meus benfeitores, com meus amigos, com meus familiares ou com meus adversários, meus inimigos, as pessoas as quais eu fiz mal.
E.: Seria uma espécie de meio de transporte, conforme o seu grau de evolução espiritual? Chega-se mais rápido ou tem-se esse contato mais rápido?
R.: Ou eu posso me sentir feliz com aquela saída do corpo, livre de uma tormenta que a vida me causava ou mais atormentado ainda. Por uma razão muito curiosa: quando nós estamos encarnados, estamos no corpo, todos os problemas que a gente vive o corpo de certa maneira é um quebra-luz. Se eu estiver com muita dor de cabeça, tomo um comprimido, vou dormir e pronto e passa. Mas no estado espiritual, quando eu não tenho corpo físico, eu sofro tudo intensamente, sem possibilidade de abafar, sem esse quebra-luz, que o corpo representa, sem esse abajur que o corpo representa. Então eu chego ao mundo espiritual, quer dizer, eu entro nessa outra dimensão sentindo o frio moral que eu criei para mim ou a calidez, a tepidez que eu criei para mim.
E.: Nesse caso então, que você citou, a morte não é uma libertação?
R.: Obrigatoriamente, não. A morte é uma libertação para quem viveu se libertando. A morte é uma escravização para quem viveu se escravizando.
E.: E quem é que vive se libertando e quem é que vive se escravizando?
R.: Vive se escravizando a pessoa que põe todas as suas fichas nas coisas que vão ficar aqui. O meu valor maior é o meu carro, minha casa, minha mulher, meu marido, meu filho, é meu isso, meu aquilo. Obviamente a hora que eu tenho que deixar para trás tudo isso, eu estou escravizado… eu estou numa tormenta sem tamanho. Quando nós vivemos no mundo usando as coisas, sem permitir que essas coisas nos usem, eu não sou escravo da minha casa. Eu adoro minha casa, mas se eu tiver que ficar sem ela eu vou viver do mesmo jeito. Eu adoro o carro que eu tenho, mas no dia que eu não tiver, eu tenho minhas pernas e eu serei feliz do mesmo jeito.
Essas são as pessoas que vão se libertando enquanto estão vivendo no corpo físico. E quanto à nossa família? Eu não tenho que pôr na minha cabeça que meu filho é meu património, que minha mulher é minha mulher, que meu marido é meu marido, nós estamos marido e mulher, nós estamos pais e filhos, nós estamos irmãos biológicos. Mas em verdade, nós somos membros dessa grande família universal. Então embora amando a esposa, ao filho, ao marido, ao parente, ao amigo, nós tenhamos sempre essa certeza, de que um dia nós teremos que atravessar essa grande ponte elevadiça mundo espiritual em que cada um vai se ligar a sua sintonia espiritual. Não é o parentesco consanguíneo da terra, é a nossa vinculação psíquica. Se eu, filho de uma mãe santa, for uma alma atormentada, eu vou ter que me haver, vou ter que me vincular a almas atormentadas. É a lei de justiça que a divindade criou, de modo que a gente vai vivendo no mundo sabendo que ninguém é de ninguém, como diz a musica popular. E a partir disso ai, nós aprendemos a amar as pessoas sem desejar possuir as pessoas, sem desejar ser donos das pessoas. E isso nos liberta fundamentalmente.
Fim da entrevista transcrita.