O desenvolvimento pessoal e espiritual não é uma atividade que se faça apenas ao fim de semana ou nas horas livres. Também passa pelo trabalho que escolhemos realizar.
Encontrar um trabalho que, não apenas nos sustente financeiramente, mas que também nutra a nossa alma, é um dos grandes desafios e conquistas da vida.
Quando conseguimos alinhar a nossa vocação com a nossa missão e atraímos até nós as oportunidades certas, o trabalho deixa de ser um fardo ou uma tarefa indesejada e torna-se uma extensão do nosso ser, permitindo-nos crescer, aprender e servir com alegria, autenticidade, propósito e significado.
É isso que nos lembra a autora Alexandra Stoddard, que no seu livro «Coisas que eu quero que as minhas filhas saibam» nos conta isto:
“O trabalho que decidimos fazer todos os dias transforma-se cumulativamente no trabalho da nossa vida. A oportunidade de realizar um bom trabalho estimula a nossa força de vida. A minha vida foi modulada, enriquecida e transformada pelo amor ao meu trabalho. Trabalho para satisfação na vida. Através dos tempos mais felizes da minha vida, assim como dos mais dolorosos, o meu trabalho sempre me susteve.
O mundo não nos deve nada. Nós devemos tudo ao mundo. O nosso trabalho é a nossa maneira de nos expressarmos, de sermos co-atores nesta dinâmica viagem terrena a que chamamos vida. Tu decides qual é o teu trabalho e o teu trabalho pode ser muito maior que a tua «tarefa».
Com o nosso trabalho, devolvemos ao mundo uma parte do que nos foi dado. A nossa recompensa resulta do próprio trabalho. Trabalhamos para crescer, para nos estendermos, para descobrir novas verdades, para nos aprofundarmos e para servir. Tornamo-nos mais conscientes e mais vivos quando encontramos trabalho que julgamos importante e que gostamos de fazer. Transcendemo-nos através do trabalho que nos faz descobrir mais sobre aquilo em que na verdade acreditamos e que gostamos mesmo de fazer.
Quando encontras um trabalho de que gostas e que te sustenta financeiramente, é o ideal. Centenas de pessoas confessaram-me que quando fazem um trabalho de que gostam – como o de professor ou bibliotecário, instrutor de ioga, conselheiro escolar ou bailarino – não precisam de tanto dinheiro porque são felizes. Quando as pessoas não se sentem felizes no seu trabalho, têm tendência a querer mais dinheiro por não se sentirem realizados com ele.
Se não gostas do teu trabalho mas ele te põe comida na mesa e te sustenta a ti e aos que amas, não é o ideal; mas trabalhar para sobreviver é honroso. Uma atriz serve à mesa num restaurante enquanto presta provas para papéis. Temporariamente, está muito bem; faz o que tens de fazer para viver. Não deveria ser indefinidamente assim, porque isso pode tornar-se esgotante, minando a tua vitalidade e entusiasmo, e vendendo a tua alma. Este não é o teu verdadeiro trabalho, é uma tarefa paga. Se precisares de o fazer, enriquece o resto da tua vida procurando atividades que te alimentem a alma.
Qual seria o trabalho ideal para ti? O que é que tens feito para atingir esse objetivo? E se encontrares um trabalho que resolva as tuas necessidades monetárias e te envolva até certo ponto mas que não seja completamente satisfatório? O que fazer? Tenta usufruir totalmente das partes que puderes e satisfaz outros interesses através do voluntariado, passatempos prediletos e passando tempo com a família. As tuas habilidades escondidas podem ser postas a uso através do trabalho voluntário, que te pode enriquecer de maneira intangível.
Mantém-te em contacto com os teus sentimentos. Não podes permitir-te ficar amarga por o teu trabalho não ser o que esperavas. Continua a lutar por um trabalho que realmente encaixe no teu todo. Tem desejos elevados. Uma das chaves para uma vida feliz e bem vivida é encontrar um trabalho de que gostes e que te ajude a obter independência financeira.
Não te acomodes para sempre ou por demasiado tempo num trabalho de que não gostes. Precisas de aspirar a um trabalho que te realize, de que te orgulhes, que esteja perfeitamente adequado aos teus talentos, dons e apaixonados interesses. Para usarmos a nossa energia de maneira construtiva, precisamos de perseguir um trabalho que amemos. Quando amamos o nosso trabalho, conservamos uma verdadeira felicidade interior. Trabalho e amor, amor e trabalho, passam a ser um só.
Quando amamos o nosso trabalho, criamos energias com ele, não ficamos enervados. Procura e descobre um trabalho que te permita oferecer os teus dons ao universo enquanto aprendes novas técnicas. Não devíamos trabalhar meramente para viver: devíamos trabalhar para criar uma vida. O trabalho pode ser o que nos leva a ajudar a nossa comunidade ou o nosso mundo e a produzir qualquer coisa de durável.
Seja o que for que te aconteça, se gostares do teu trabalho, manterás a tua independência e, portanto, a tua liberdade. Como adulta, encontrar um trabalho de que gostes é responsabilidade tua e, acredito, uma obrigação. Se o encontrares, ele promete-te harmonia para o resto da tua vida. Estamos aqui para desenvolver as nossas qualidades, para as partilhar com os outros servindo. O ideal é encontrar trabalho pago que te alimente a ti e a outros. Amar o nosso trabalho é fundamental para atingirmos este fim.”
Trecho parcialmente editado e retirado do capítulo «Procura um trabalho que ames e te sustente financeiramente» do livro «Coisas que eu quero que as minhas filhas saibam» da autoria de Alexandra Stoddard. Publicado em Portugal em 2005.
“Descobrir o que somos capazes de fazer e conseguir uma oportunidade para o fazermos é a chave da felicidade.“
John Dewey
SOBRE O TRABALHO
Então um fazendeiro disse:
fale sobre o trabalho.
E ele respondeu:
Vocês trabalham para seguir os passos da terra e da alma da terra.
Pois entregar-se ao ócio é perder de vista as estações do ano e afastar-se da procissão da vida, que marcha majestosa e submissa rumo ao infinito.
Quando trabalham, são uma flauta em cujo interior o sussurro das horas se torna ritmo.
Qual de vocês se contentaria com o silêncio imóvel enquanto todos cantam em uníssono.
Sempre lhes disseram que o trabalho é uma maldição e o esforço é um atraso.
Eu, no entanto, lhes digo que, com o trabalho, realizam parte do sonho mais antigo da terra, e esse papel é seu desde que o sonho nasceu,
E ao trabalhar com vontade estão na verdade amando a vida,
E amar a vida através do trabalho é conhecer de perto o seu segredo mais íntimo.
Mas se, na sua dor, chamar o nascimento de punição e o sustento do corpo de uma maldição que têm gravada na testa, então respondo que só o suor será capaz de lavar essa insígnia.
Também lhes disseram que a vida é escuridão, e em sua exaustão ecoa o que foi dito por quem se exauriu.
E eu lhes digo que a vida é de fato escuridão, exceto quando há vontade,
E toda a vontade é cega, exceto quando há saber,
E todo o saber é vão, exceto quando há trabalho,
E todo o trabalho é vazio, exceto quando há amor;
E quando trabalham com amor aproximam-se de si mesmos, e uns dos outros, e de Deus.
E o que é trabalhar com amor?
É tecer uma roupa com os fios do coração, como se aqueles que amam fossem vesti-la.
É construir uma casa com afeto, como se aqueles que amam fossem morar sob esse teto.
É plantar sementes com ternura e colher com alegria, como se aqueles que amam fossem comer desse fruto.
É preencher tudo o que criarem com o sopro do seu próprio espírito,
E saber que todos os que já se foram os observam neste momento.
Tantas vezes ouvi-os a dizer, como se estivessem a dormir: “Aquele que lida com mármore, e na pedra encontra a forma da sua alma, é mais nobre que aquele que lida com o solo. E aquele que captura o arco-íris, e dele faz um tecido à semelhança do homem, é maior que aquele que faz sapatos”.
Mas eu lhes digo – não dormindo, mas na plena consciência do dia – que o vento fala com a mesma doçura tanto do carvalho gigante quanto da mais ínfima folha;
E grande é aquele que faz da voz do vento uma música ainda mais doce porque ama.
O trabalho é o amor tornado visível.
E, se não conseguirem trabalhar com amor, apenas com desgosto, é melhor que deixem o posto, sentem-se diante da porta do templo e peçam esmola aos que trabalham com prazer.
Pois se fizerem pão com desdém, o resultado será uma massa amarga que só sacia metade da fome de um homem.
E se espremerem as uvas com rancor, seu rancor destilará veneno no vinho.
E mesmo que cantem como anjos, se não amarem a música que cantam, os homens não darão ouvidos às vozes do dia e às vozes da noite.
Trecho retirado do livro «O Profeta» de Khalil Gibran.
“Escolhe um trabalho de que gostes e não terás que trabalhar nem um dia na tua vida.“
Citação atribuída a Confúcio
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