Não importa a crença, a religião e a fé que cada ser humano professa, na hora de enfrentar o luto. Mesmo aqueles que acreditam na continuidade da vida depois da morte, na hora da despedida, o vazio real que se impõe, abafa e asfixia o coração daquele que se vê forçado a devolver ao cosmos o ser tão profundamente amado. É sem dúvida um momento de profunda e grande tristeza.
“(…) enquanto a vida abandonava o seu corpo por mim tão amado, eu embalava-a nos meus braços, cantando por entre as lágrimas, tentando abafar a minha dor, para que ela não tivesse medo (…)”.
Também não importa o grau de parentesco, se é um filho, um pai, um amigo ou um companheiro de quatro patas. Quando o AMOR é total, sincero, verdadeiro, a realidade da morte atinge a estrutura humana tão violentamente, que é impossível conter o tsunami de dor, do qual não tem como escapar.
Uma das pessoas que recorreu a mim para enfrentar a dor do luto relatou: “enquanto a vida abandonava o seu corpo por mim tão amado, eu embalava-a nos meus braços, cantando por entre as lágrimas, tentando abafar a minha dor, para que ela não tivesse medo”, esta mulher em particular, revelou uma grande força na hora terrível, mas logo após as diligencias fúnebres, caiu numa depressão profunda.
“eu sabia que ela não passaria daquela tarde, e nessa última tarde que passamos juntas, deitadas em silêncio a contemplar o céu, tudo aquilo em que eu acreditava até então desapareceu. Um profundo vazio e desapontamento em relação a Deus tomou conta de mim, e senti que perante o mistério da vida, o ser humano tem muitas respostas, mas nenhuma delas era afinal, pelo menos naquele momento, verdade para mim. Senti que estava literalmente a morrer também”.
Outra cliente, que era espirita e acreditava piamente na eternidade da vida relatou: “eu sabia que ela não passaria daquela tarde, e nessa última tarde que passamos juntas, deitadas em silêncio a contemplar o céu, tudo aquilo em que eu acreditava até então desapareceu. Um profundo vazio e desapontamento em relação a Deus tomou conta de mim, e senti que perante o mistério da vida, o ser humano tem muitas respostas, mas nenhuma delas era afinal, pelo menos naquele momento, verdade para mim. Senti que estava literalmente a morrer também”.
“(…) Nesse dia, o mais trágico em toda a minha vida tive de ir trabalhar na mesma, imagine a senhora eu dizer ao meu chefe que a minha gata amada tinha morrido nos meus braços. Ele não entenderia. Urrei e gritei de dor durante todo o trajeto de carro, todos os dias, durante pelo menos uma semana. Senti nojo das pessoas, todas, da sociedade, de mim, da vida.”
Relato ainda outro testemunho: “nesse dia, o mais trágico em toda a minha vida tive de ir trabalhar na mesma, imagine a senhora eu dizer ao meu chefe que a minha gata amada tinha morrido nos meus braços. Ele não entenderia. Urrei e gritei de dor durante todo o trajeto de carro. Senti nojo das pessoas, todas, da sociedade, de mim, da vida.” Esta mulher em particular desenvolveu uma repudia tal pelos seus amigos e familiares, que se colocou num isolamento social de tal forma, que agora não sabia como sair.
As fases do luto
Elisabeth Kubler Ross, psiquiatra Suíça-Americana foi das primeiras profissionais de saúde a abordar este tema, tendo definido 5 fases do luto. No seu livro ”Sobre a morte e o morrer”, Ross apresentou a sua visão dos 5 estágios do luto:
Negação – Nesta etapa, as pessoas costumam negar a perda do ente querido, questionam porque é que a morte atingiu alguém tão querido. Consideram que o acontecimento não é justo, provocando revolta e ressentimento.
Raiva – Sentimentos de raiva, angústia, desespero, medo, culpa e frustração manifestam-se constantemente. Este turbilhão domina a mente da pessoa enlutada, fazendo-a ter condutas ríspidas e desagradáveis. Quando alguém tenta trazê-la para a realidade, ela reage com agressividade, ainda incapaz de aceitar a perda. Também é possível que a pessoa em luto expresse a sua raiva através de atitudes autodestrutivas, como beber exageradamente ou discutir mesmo com desconhecidos.
Negociação – É quando, mesmo sabendo que o ente querido está de partida, principalmente entre pessoas com doenças terminais, o familiar começa a negociar com Deus ou outro poder superior no qual acredita, pedindo que interceda e que não deixe a morte acontecer.
Depressão – É quando “cai a ficha”, como se diz atualmente. A pessoa, mesmo tendo negado e negociado, percebe que o ente querido faleceu. Portanto, é um momento de dor profunda, marcado por muita tristeza, choro, insónias, pensamentos negativos e lembranças.
Aceitação – Nesta última etapa, o enlutado deixa de se desesperar tantas vezes e passa a aceitar a partida do ente querido de uma forma mais natural, aceitando que faz parte da vida e está fora do seu controlo. Devagar, a pessoa que está a passar pelo luto começa a abrir-se de novo para a vida.
Em cada uma delas, o ser humano lida com as suas emoções, sentimentos e respostas físicas ao seu estado psicobioemocional, o melhor que pode, o melhor que consegue.
Depois dos estudos de Elisabeth, outros profissionais têm acrescentado outros estádios, como o choque, o stress, a culpa e o medo. Em média, acredita-se que a aceitação e integração da perda, dura, regra geral, um período de 6 meses. Após este período, a dor pode transformar-se, e dar lugar a uma nova forma de encarar a vida, o amor, dando lugar à esperança de que ser feliz ainda é possível, mesmo que a realidade, tal como era conhecida nunca mais venha a ser a mesma coisa.
Dicas importantes para superar o luto
Aceite a sua dor
Aceitar a sua dor e a partida da pessoa amada é fundamental para o seu processo de autocrescimento e inicio de uma nova etapa. Ponha para fora todas as suas emoções e sentimentos. Admita para si mesmo a nova realidade. Negar o acontecimento só aumenta o sofrimento do enlutado.
Guarde apenas algumas recordações.
Muitas pessoas apresentam uma grande resistência para se desfazerem dos objetos pessoais da pessoa falecida. É recomendado guardar apenas os objetos essenciais, que trazem alguma recordação, mas não mantenha as coisas como antes, como se a pessoa fosse voltar. Isso dificulta o processo da superação do luto.
Procure ajuda
Se superar o luto sozinho está a ser muito difícil, procure ajuda. Além disso, procurar fazer terapia com um profissional especializado, pode auxiliá-lo a reconstruir a sua vida, sem a pessoa que partiu.
Laços verdadeiros
Contar com o apoio de pessoas queridas é muito importante para ajudá-lo a voltar a valorizar as coisas boas da vida. Os amigos e os familiares que realmente gostam de si, podem trazer uma energia positiva, que vai aliviar a sua dor no momento de luto.
Novas etapas
Procure novas (ou antigas) atividades que preencham a sua vida.
Atividade física, novos cursos ou mesmo viajar ajuda a afastar os pensamentos negativos. A vida como a morte sempre nos ensina, é uma honra e um milagre. Aproveite o tempo que lhe foi concedido.
Da minha experiência pessoal, acredito que cada luto é único, bem como a alternância das fases e claro, a sua duração.
Se a vida é benigna e o amor é real, cabe-nos, perante a perda e apesar do sofrimento, a tarefa de continuar a cultivar o bem dentro e fora de nós, semeando a esperança e honrando com alegria o amor que nos foi dado a experienciar, irradiando por toda a parte a luz que esse mesmo amor nos delegou.
A decisão de não deixar que a escuridão nos abocanhe, e que a saudade pode ser usada como um farol brilhante, é tarefa que cabe a cada um de nós realizar. Respeitar o nosso processo individual, reconhecer a dor como parte inevitável do processo de viver, e transformar estas experiências em empatia e sabedoria, dando lugar a novos começos, é um caminho que podemos sem dúvida, escolher. Para o nosso próprio bem, bem daqueles que amamos, e uma forma de respeitar os nossos amores que partiram.
Maria João Azevedo
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